sexta-feira, 19 de outubro de 2018

RINCÃO DA GUARDA DE SANTA ROSA (Candiota)

     A linha de fronteira entre Brasil e o Vice-Reino do Prata na Região de Candiota, até a Guerra do ano 1801, seguia os traçados das estradas reais da Coxilha de Santo Antônio, que iam do Herval a Bolena e desta ao Forte Santa Tecla. Seguindo esta linha tinha uma faixa de campo chamado neutral. Para vigiar esta fronteira e seu campo neutral, o Brasil e o Vice-Reino do Prata estabeleceram um cordão de guardas ao longo desta linha. Os espanhóis estabeleceram uma destas guardas, nas nascentes do Arroio do Tigre, deram a ela o nome de Guarda de Santa Rosa. Com a missão de vigiar o rincão entre os Arroios Candiota e Jaguarão Grande, de suas nascentes a suas confluências. Na Guerra do ano 1801 os portugueses comandados por Vasco Pinto Bandeira tomaram esta Guarda e seu rincão, levando a linha de fronteira das estradas da Coxilha de Santo Antonio, para o curso d'água do Rio Jaguarão Grande, ficando o dito rincão desta Guarda sob o domínio brasileiro com o nome de Rincão da Santa Rosa. Logo após a esta Guerra, um espanhol de nome Dom Silvetri Piriz e uns paisanos, tentaram reconstruir uns arranchamentos neste Rincão, sendo expulsos por uma patrulha brasileira comandada pelo Alferes  Silvestre Teixeira, para o outro lado do Rio Jaguarão Grande, ficando este Rincão devoluto. Com isso vieram a se estabelecer nele vários posseiros brasileiros. Que logo requereram carta de sesmaria, entre eles: José Soares da Silva, Joaquim Silvério de Souza Prates, Izabel Ignácia do Espirito Santo, as irmãs Anna e Flávia Domitila, Antônio da Costa Pereira, Anna Ludovina da Cunha, João Teixeira de Mello, Padre José Rodrigues de Assunção e os Irmãos Francisco e José Lucas de Oliveira, sendo estes por portarias.


Mapa do Rincão da Guarda Sta.Rosa



                           

                           Mapa do ano de 1885 onde mostra a Cacimba da Guarda de Santa Rosa


     Por volta do ano de 1810, Antônio Soares de Paiva era contratador do Real Dizimo da Capitania de São Pedro do Sul. Aproveitando-se deste cargo, comprou várias propriedades dos primeiros povoadores deste Rincão, e formou nele às seguintes  estâncias:

    - Estância do Fundo que se localizava entre o Rio Jaguarão Grande e o Arroio Candiota, tendo ao sul a confluência deste Arroio neste Rio; pelo leste com o Arroio Candiota e os campos do casal Felício Soares da Silva e Anna Ismênia Barbosa; pelo oeste com o Rio Jaguarão Grande; e polo norte com a Estância da Patrulha. Estes campos foram comprados por Antônio Soares de Paiva no ano de 1809, ao Tenente de Dragões José Rodrigues Barbosa e sua mulher Rosamaria Zeferina Joaquina Barbosa. Tendo Antônio recebido carta de sesmaria no ano de 1823 dos campos desta Estância. Antônio também comprou os campos do Manoel Soares da Silva e sua mulher Clara Barbosa Soares e anexou aos campos desta Estância. 
    - Estância da Patrulha que se localizava entre o Rio Jaguarão Grande e o Arroio Candiota; tendo pelo sul a Estância do Fundo e campos de Felício Soares da Silva; pelo norte o Cerro da Patrulha; pelo leste com o Arroio Candiota: pelo oeste com o Rio Jaguarão Grande. Os campos desta Estância foram comprados no ano de 1818 por Antônio Soares de Paiva ao sesmeiro José Soares da Silva e sua mulher Guiomar Maria da Silva. que os haviam obtidos por posse desde o avanço da fronteira em 1801 e por compra feita a Simão Soares da Porciúncula.
    - Estância do Contrato que se localizava entre o Rio Jaguarão Grande e os Arroios Candiota e Tigre.  Estes campos faziam parte da Sesmaria do Capitão Joaquim Silvério de Souza Prates, que foram comprados por José Soares da Silva, que formou uma sociedade no ano de 1813 com Antônio Soares de Paiva. Onde aquele entrava com os ditos campos e este com o gado obtido no dizimo. Esta sociedade durou até o ano de 1817 e fora administrada por José de Souza Netto. No fim desta sociedade José Soares da Silva e sua mulher Guiomar Maria da Silva, venderam estes campos a Antônio Soares de Paiva, que formou nestes campos a dita Estância do Contrato. Cuja confrontações nesta época era: ao sul com a Estância da Patrulha; ao norte com a Estância Nova; ao oeste com o Rio Jaguarão Grande por onde confrontava com a Província Cisplatina, e ao leste com os Arroios Candiota e Tigre.
    - Estância Nova  que se localizava entre o Rio Jaguarão Grande e a vertente mais oriental que deságua no Arroio do Tigre e que nasce ao pé de um Cerrito, tendo pelo sul o Passo dos Cachorros e pelo norte os campos de Antônio da Costa Pereira. Estes campos foram comprados por Antônio Soares de Paiva às irmãs Anna Marques e Flávia Domitila, filhas do primeiro povoador Carlos Antônio Pereira do Lago.
     Antônio Soares de Paiva também comprou outras propriedades como a parte de campo de Francisco Lucas de Oliveira e sua mulher Francisca Leocádia da Silva, no ano de 1820 e também comprou os campos da Sesmaria de Anna Ludovina da Cunha.

     No ano de 1846, já velho Antônio Soares de Paiva e seu filho Israel Soares de Paiva começaram a vender suas propriedades. Vendendo as estâncias; Dos Fundos, da Patrulha, do Contrato e Nova, para Faustino Jose´Correia, que formou com elas a sua grande estância que chamou de Estância de Candiota, com treze léguas quadradas. como mostra o mapa abaixo.
Mapa da Estância de Candiota, medida no ano 1880. 
  Também venderam os campos da antiga sesmaria de Anna Ludovina da Cunha para José Martins Coelho. Que formou neles a Estância que chamou de Estância do Seival, que foi herdada por Hypólito José Martins. Que tinha no ano de 1856 as seguintes confrontações: pelo norte com a Estrada que vai para São Sebastião de Bagé e uma vertente do Arroio Seival; pelo Sul com partes do Rio Jaguarão Grande e uma estrada onde divide os campos com Joaquim Antônio de Menezes; pelo oeste com a antiga linha divisória (Rio Jaguarão Grande) e marcos do falecido Calheca; pelo leste com o Arroio Seival.
Mapa desta localidade que ficou conhecida como Campos dos Hypólitos.


     Além das Estâncias acima referidas existiam outras neste Rincão da Guarda de Santa Rosa, tais como:
    - Estância Posto de Santa Rosa que teve com primeiro povoador o Capitão Antônio da Costa Pereira e sua mulher Eugênia Maria de Menezes. Que a venderam no ano de 1813 ao Capitão Mor Antônio Francisco dos Anjos, que a revendeu no ano de 1815, a Joaquim Antônio de Menezes. Esta Estância se localizava  entre o Rio Jaguarão Grande e a Cacimba da Guarda de Santa Rosa, tinha pelo norte o dito Jaguarão e uma vertentes (Lajeadinho) que nascem na Coxilha da Guarda de Santa Rosa e deságuam no Rio Jaguarão Grande, pelo sul com a Estância Nova e no sudeste a Cacimba e o Cemitério da Guarda de Santa Rosa.
Estância Posto Sta Rosa, medida em 1880.
     Estância da Bolena nos campos da antiga sesmaria do Padre José Rodrigues de Assunção, localizada entre os arroios Seival e Candiota Grande, Manoel Francisco de Moura e sua mulher Rosália Francisca formaram a sua Estância nos campos que compraram aos herdeiros do Padre Assunção. Os campos tinha as seguintes confrontações: pelo norte com a Coxilha que divide águas dos Rios Camaquã e Jaguarão Grande e um afluente do Arroio Candiota; pelo sul o Banhado do Capão da Madeira: pelo leste o Arroio Candiota e pelo oeste o Arroio Seival. Nos anos de 1847 e 1851, Manoel Francisco de Moura vendeu partes de sua propriedade a Ignácio Francisco de Moura e a Manoel da Rosa Machado. No ano de   1900 a viúva de José Francisco de Moura (Este filho de Ignácio) mandou medir e demarcar a Estância da Bolena, que agora era chamada de Estância do Seival. Gerando o Mapa Abaixo:
Mapa da  Medição do ano de 1900
     Estancia de José Lucas de Oliveira os campos desta Estância fazia parte de um campo  maior adquirido por portaria do ano de 1806, pelos irmão Alferes José Lucas de Oliveira e o Furriel Francisco Lucas de Oliveira. Sendo que a parte do Furriel fora vendido em 1824 a Antônio Sares de Paiva. Com a morte de sua mãe Izabel Ignácia do Espirito Santo no ano de 1816, sua sesmaria foi partilhada entre herdeiros, tocando uma parte a José Lucas de Oliveira, que englobou nos campos de sua Estância. Com a morte de José Lucas de Oliveira seus herdeiros, mais tarde, em 1885 mediram os campos desta Estância que chamavam de Santa Rosa. Conforme o Mapa abaixo:

Mapa da medição do ano de 1885

   
        O Rincão da Guarda de Santa Rosa aos poucos com o passar do tempo passou a ser conhecido como Candiota e Seival, no antigo Município de Bagé.

         Observação: O Autor como gaúcho, preferiu seguir a tradição e usar o termo "Estância" em vez de "Fazenda" para designar propriedades rurais.

REFERENCIAS:
- Medições de campos no Município de Bagé anos; 1809, 1813, 1823, 1880, 1885 e 1900. - APERS.
- Cartas de sesmaria - APERS.
- Registros Paroquias de Propriedades - BISPADO DE BAGÉ.

Contato com o Autor: nercinogueira@gmail.com